Artigos, Consoles e Games, Curiosidades, Nintendo, Sega

Mortal Kombat: O Torneio Sangrento que Mudou a História dos Arcades

Logo de Mortal Kombat

Fala, pixelado! Prepare as suas fichas e ajeite a postura na frente do fliperama, porque hoje vamos entrar na arena mais perigosa e sangrenta dos anos 90. Estamos falando de Mortal Kombat, o jogo que não apenas consumiu nossa mesada, mas que chocou pais, criou leis e definiu o que significava ser um “gamer hardcore” na era 16-bits.

Se você acha que sabe tudo sobre o torneio de Shang Tsung, prepare-se para um Fatality de nostalgia e informação. Vamos desenterrar a história de como Mortal Kombat saiu de um projeto quase cancelado para se tornar um ícone da cultura pop.

Como Tudo Começou: De Van Damme ao Sangue Digital

Acredite se quiser, mas Mortal Kombat quase foi um jogo sobre o Jean-Claude Van Damme. Em 1991, a Midway Games queria surfar na onda do filme O Grande Dragão Branco (Bloodsport). A ideia era simples: digitalizar o ator belga e colocá-lo para lutar.

No entanto, o acordo com Van Damme não rolou. Foi aí que dois gênios, Ed Boon (programador) e John Tobias (designer e roteirista), decidiram criar seu próprio universo. Com uma equipe minúscula de apenas quatro pessoas e um cronograma apertado de 10 meses, eles tiveram que ser criativos.

A grande revolução tecnológica de Mortal Kombat foi o uso de gráficos digitalizados. Em vez de desenhar sprites pixel por pixel (como em Street Fighter II), eles filmaram atores reais fazendo os movimentos contra um fundo cinza (uma versão primitiva do chroma key). Isso deu ao jogo um realismo visual que, para a época, era absolutamente chocante. O sangue parecia sangue, e os socos pareciam doer de verdade.

Um dos duelos mais acirrados da história dos videogames.
Um dos duelos mais acirrados da história dos videogames.

A História: O Torneio para Salvar a Terra

Embora a gente só quisesse ver sangue, Mortal Kombat tinha uma lore profunda inspirada em filmes de kung-fu e mitologia oriental. A história gira em torno de um torneio milenar chamado Mortal Kombat, organizado pelo feiticeiro maligno Shang Tsung.

A regra era clara: se o exército de Outworld vencesse o torneio dez vezes seguidas, o Imperador Shao Kahn poderia invadir e conquistar a Terra (Earthrealm). Eles já tinham vencido nove vezes. O destino da humanidade estava nas mãos de um monge shaolin, um astro de cinema, um militar e um deus do trovão. A pressão era grande, mas a vontade de dar um uppercut era maior!

Ficha Técnica: Os Guerreiros e Seus Segredos

Quem eram as pessoas reais por trás das máscaras? E como a gente fazia aqueles golpes no Arcade? Relembre agora a ficha técnica dos kombatentes originais de Mortal Kombat.

Liu Kang

  • Ator: Ho Sung Pak
  • História: Um monge Shaolin honrado, focado em destruir Shang Tsung e salvar o torneio da corrupção. É a “cópia” espiritual de Bruce Lee no jogo.
  • Golpes Clássicos:
    • Fireball: Frente, Frente, Soco Alto.
    • Flying Kick: Frente, Frente, Chute Alto.

Johnny Cage

  • Ator: Daniel Pesina
  • História: Astro de Hollywood que entrou no torneio para provar aos críticos que ele não usava dublês e efeitos especiais. É a homenagem direta ao Van Damme.
  • Golpes Clássicos:
    • Green Ball: Trás, Frente, Soco Baixo.
    • Shadow Kick: Trás, Frente, Chute Baixo.
    • Nut Punch (Soco nas partes baixas): Bloqueio + Soco Baixo (O golpe mais desrespeitoso dos arcades!).

Sub-Zero

  • Ator: Daniel Pesina
  • História: Um ninja do clã Lin Kuei contratado para assassinar Shang Tsung. Frio e calculista.
  • Golpes Clássicos:
    • Ice Freeze: Baixo, Frente, Soco Baixo.
    • Slide: Trás + Soco Baixo + Bloqueio + Chute Baixo.

Scorpion

  • Ator: Daniel Pesina
  • História: Um espectro ninja ressuscitado buscando vingança contra Sub-Zero, que o matou. Sua frase “GET OVER HERE!” é icônica.
  • Golpes Clássicos:
    • Spear: Trás, Trás, Soco Baixo.
    • Teleport: Baixo, Trás, Soco Alto.

Raiden

  • Ator: Carlos Pesina
  • História: Deus do Trovão e protetor da Terra. Ele assume forma mortal para lutar no torneio.
  • Golpes Clássicos:
    • Lightning Bolt: Baixo, Frente, Soco Baixo.
    • Torpedo: Trás, Trás, Frente.

Sonya Blade

  • Atriz: Elizabeth Malecki
  • História: Tenente das Forças Especiais dos EUA. Ela entra no torneio forçada por Shang Tsung para salvar sua equipe.
  • Golpes Clássicos:
    • Ring Toss: Trás, Frente, Soco Baixo.
    • Leg Grab: Baixo + Bloqueio + Soco Baixo.

Kano

  • Ator: Richard Divizio
  • História: Mercenário criminoso e líder do clã Black Dragon. Inimigo mortal de Sonya.
  • Golpes Clássicos:
    • Knife Throw: Segure Bloqueio, Trás, Frente.
    • Cannonball: Segure Bloqueio e gire o direcional 360º.

Familia unida!
Familia unida!

A Recepção nos Arcades e a Guerra dos Consoles

Quando Mortal Kombat chegou aos fliperamas em 1992, foi um fenômeno imediato. Filas se formavam, e o som dos gritos dos personagens ecoava nos shoppings. Mas a verdadeira guerra aconteceu quando o jogo foi portado para os videogames no famoso “Mortal Monday” de 1993.

Aqui tivemos uma divisão histórica:

  • Super Nintendo (SNES): Tinha gráficos e sons melhores, mas a Nintendo, com sua política “familiar”, censurou o sangue (que virou “suor” cinza) e mudou os Fatalities cruéis. O jogo ficou “bonitinho, mas ordinário”.
  • Sega Genesis (Mega Drive): Os gráficos eram inferiores, mas… ah, meus amigos! Se você digitasse o código ABACABB na tela de abertura, o sangue vermelho jorrava e os Fatalities originais eram liberados. Resultado? A versão do Mega Drive vendeu muito mais. A Sega fazia o que a Nintendo não tinha coragem!
Quem ai já viu uma destas ao vivo? Estive nos arcades de minha cidade quando foi lançado e tinha de se espremer para conseguir ver o jogo. E para jogar? A fila era longa.
Quem ai já viu uma destas ao vivo? Estive nos arcades de minha cidade quando foi lançado e tinha de se espremer para conseguir ver o jogo. E para jogar? A fila era longa.

O Medo, a Crítica e o Nascimento da ESRB

Mortal Kombat não foi apenas um sucesso de vendas; ele foi um escândalo social. A violência explícita, com cabeças sendo arrancadas (Sub-Zero) e corações sendo extraídos (Kano), fez com que pais e políticos entrassem em pânico.

Revistas como a EGM e GamePro amavam o jogo, elogiando a jogabilidade e os segredos. Mas a mídia tradicional, jornais e TV, pintavam Mortal Kombat como um “corruptor da juventude”.

O caso foi tão sério que foi levado ao Congresso dos Estados Unidos em 1993. Foi por causa de Mortal Kombat (e do jogo Night Trap) que a indústria de games foi obrigada a criar o sistema de classificação etária que conhecemos hoje, a ESRB. Basicamente, se hoje você vê aquele selo “Mature 17+” na caixa do jogo, agradeça ao Scorpion e ao Sub-Zero.

Sub-Zero tirando a cabeça de Sonya com coluna vertebral e tudo.... Maria da Penha no cara, ia dividir cela com algum genocída.  🤡
Sub-Zero tirando a cabeça de Sonya com coluna vertebral e tudo…. Maria da Penha no cara, ia dividir cela com algum genocída. 🤡

Curiosidades Bizarras e Coisas Assustadoras

O universo de Mortal Kombat nos arcades era cercado de lendas urbanas, algumas reais e outras pura invenção da molecada da locadora.

  1. Reptile: Ele foi o primeiro personagem secreto da história dos jogos de luta. Para enfrentá-lo, você precisava vencer no cenário “The Pit” com dois Double Flawless (sem perder energia), dar um Fatality e… torcer para que uma sombra passasse na lua. Era insano!
  2. ERMAC: Na tela de auditoria do jogo (menu de serviço), aparecia uma linha escrita “ERMACS”, que significava Error Macros. Os jogadores achavam que era um ninja vermelho secreto. A lenda ficou tão forte que a Midway criou o personagem Ermac anos depois.
  3. Toasty!: Quem é o cara que aparece no cantinho da tela gritando fino? É o designer de som do jogo, Dan Forden. Ele aparecia quando você acertava um gancho perfeito.

Algo realmente assustador no jogo? O cenário “The Pit” (O Fosso). Se você olhasse bem para o fundo, via cabeças decepadas de programadores da Midway espetadas em estacas. Um toque macabro de Ed Boon.

Aqui era local para os fortes!
Aqui era local para os fortes!

O Império Mortal Kombat: Filmes e Produtos

A marca Mortal Kombat ficou tão grande que explodiu para fora dos games. Tivemos bonecos G.I. Joe versão MK, quadrinhos, jogos de tabuleiro e, claro, o filme de 1995.

O filme original é, até hoje, considerado uma das melhores adaptações de games já feitas (dentro do possível para os anos 90), com aquela trilha sonora techno que toca na nossa cabeça até hoje. Já a sequência, Annihilation… bem, vamos fingir que ela não existe, certo?


⚠️ ALERTA DE SPOILER ⚠️

Se você nunca zerou o primeiro Mortal Kombat (o que você estava fazendo nos últimos 30 anos?), aqui está como terminava a saga para cada personagem após derrotar Shang Tsung:

  • Liu Kang: Salva o torneio, restaura a honra Shaolin e volta para seu templo como herói.
  • Johnny Cage: Continua sua carreira no cinema e estrela o filme “Mortal Kombat”, baseado em sua aventura real. O sucesso de bilheteria é garantido.
  • Raiden: Fica entediado com a vitória fácil e convida outros deuses para um novo torneio, o que acaba destruindo o mundo. (Ops!)
  • Kano: Rouba o palácio de Shang Tsung e cria um monopólio do crime global.
  • Sonya: Captura Kano e sua equipe, colocando um fim na organização Black Dragon.
  • Sub-Zero: Assassina Shang Tsung, pega a recompensa e desaparece nas sombras, aposentando-se da vida de crimes (será?).
  • Scorpion: Mata Sub-Zero, vingando sua própria morte e a de sua família, e finalmente encontra paz, deixando de ser um espectro… ou continua vagando pelo Netherrealm.

E aí, qual desses finais você desbloqueou primeiro na locadora?

Escolha seu lutador!!!!
Escolha seu lutador!!!!

Gostou de relembrar esse clássico? Mortal Kombat provou que um jogo pode ser polêmico, divertido e tecnicamente impressionante ao mesmo tempo. Se a nostalgia bateu forte, não deixe de conferir nossos outros artigos sobre a era 16-bits!

Pixel Nostalgia Relembrando o melhor da era 8 e 16 bits — um byte de cada vez.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *